quarta-feira, 23 de abril de 2008

Irina Palm



eufemismo
eu.fe.mis.mo

sm (gr euphemismós) Figura de retórica pela qual se suavizam expressões tristes ou desagradáveis empregando outras mais suaves e delicadas. Ex: Este trabalho poderia ser melhor (em vez de está ruim).

Em uma cena de “Irina Palm”, é usando de um “eufemismo” que o personagem Miki explica para uma respeitável senhora o que o trabalho de “atendente” implica. E desconfio que para escrever este texto eu também terei de usar de vários eufemismos. Maggie (interpretada por Marianne Faithfull) é uma senhora inglesa tradicional. Viúva, é dedicada ao filho único Tom (Kevin Bishop), sua nora Sarah (Siobhan Hewlett) e ao neto querido, Ollie (Corey Burke). O problema é que Ollie se encontra internado no hospital sofrendo de uma doença grave e fatal. Se ele não receber um tratamento novo desenvolvido na Austrália, ele morrerá. O tratamento é gratuito, mas como pagar os altos custos de transporte e estadia do outro lado do mundo? Maggie tenta um empréstimo no banco, mas é recusada. A mesma resposta negativa recebe de uma agência de empregos. Andando pelas ruas de Londres, ela se depara com uma oferta de “atendente” em um clube privado, acreditando se tratar de trabalho de limpeza. O dono do clube é Miki (Miki Manojlovic, que eu achei muito parecido com o falecido Walter Matthau), que explica o “eufemismo” do início do texto. Maggie é obviamente muito velha para trabalhar como prostituta, mas Miki nota que ela tem mãos muito macias e suaves, que seriam apropriadas para determinado tipo de “trabalho manual”. A princípio Maggie se recusa, mas como conseguir levantar as seis mil libras necessárias para salvar a vida do neto?
“Irina Palm” é dirigido por Sam Garbarski de forma ao mesmo tempo chocante e suave. Não há como não sentir certo horror à situação proposta pelo roteiro, mas o filme usa de ângulos criativos para esconder o “ato” em si (mas não foge dele). Maggie tem como “professora” uma jovem chamada Luisa (Dorka Gryllus, excelente) que, pragmática, explica como se deve apertar o botão vermelho e aguardar que o próximo cliente coloque o “membro” por um buraco na parede, como lubrificar as mãos, e assim por diante. Bizarro? Sem dúvida, mas mais bizarro ainda é imaginar que lugares como este existam, e que provavelmente a pessoa do outro lado da parede não seja nenhuma top model, mas uma senhora como Maggie. Enojada de início, Maggie aos poucos vai se mostrando uma “expert” no trabalho e começa a atrair mais e mais clientes. Enquanto isso, suas amigas de carteado e sua família ficam imaginando onde é que ela passa as tardes.
Justiça seja feita à Marianne Faithfull e à sua brilhante interpretação. E não deixa de ser chocante vê-la hoje, com mais de sessenta anos, e comparar com o símbolo sexual que ela era nos anos 60. Ela passa uma determinação e carisma que fazem com que seu personagem se torne crível e interessante. Em um filme com tema menos polêmico ela provavelmente teria recebido uma indicação ao Oscar pelo trabalho. Miki Manojlovic, como o dono do clube, também faz um ótimo trabalho como um homem de negócios seco e direto que, aos poucos, vai se dobrando diante da determinação de Maggie. Mas o roteiro tem seus problemas. A justificativa para a nova “profissão” de Maggie é a doença de seu neto, e os primeiros minutos de filme passam a informação de que ele deve ser tratado urgentemente. O problema é que quando Maggie consegue o dinheiro necessário para as despesas adiantado, esta urgência como que desaparece. Os pais do menino, ao invés de comprarem imediatamente as passagens para a Austrália e partirem, ficam “enrolando” sem motivo e o tempo vai passando.
Não é um filme fácil e, sem dúvida, ele se equilibra em uma linha fina entre o bizarro e o dramático. Mas há espaço até para o humor em algumas situações passadas por Maggie (como quando ela resolve decorar sua cabine como se fosse sua casa) e boas atuações do elenco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, gostei de seu blog, vou voltar outras vezes para acompanhar as dicas de fimes. Parabéns!

João Solimeo disse...

Obrigado pela visita, Tiana. Comentários são sempre bem vindos e um incentivo para escrever mais.
Volte sempre.