sábado, 5 de abril de 2008

A Espiã


O holandês Paul Verhoeven é famoso por suas cenas de violência e sexo. Em alguns casos, cenas de ambos. É dele o já "clássico" Instinto Selvagem ("Basic Instinct), que em 1992 mostrou ao mundo a mais famosa cruzada de pernas do cinema, protagonizada por Sharon Stone. O filme não fazia o menor sentido em termos de roteiro, mas as cenas de Stone mais o suspense influenciado por Hitchcock fizeram muito sucesso. Verhoeven estreou no cinema americano com o estilizado "Conquista Sangrenta" (Flash and Blood, 1985), com Rutger Hauer e fez muito sucesso em seguida com "Robocop" (1987). Este último contém algumas das cenas mais violentas do cinema, mas era um primor em técnica (as cenas filmadas pelo ponto de vista de Robocop são brilhantes) e tinha bela trilha sonora de Basil Poledouris. Em seguida veio "O Vingador do Futuro" (Totall Recall, 1990), sobre um operário que se transforma em agente secreto e é enviado à Marte; ou será que é tudo um sonho? A história foi baseada em um conto de Philip K. Dick (de Blade Runner e Minority Report). Com essa série de sucessos no currículo, Verhoeven perdeu o rumo em uma série de fracassos, como "Showgirls" (1995, tão ruim que chega a ser cômico); "Tropas Estelares" (1997, pornograficamente violento) e "O Homem sem Sombra" (2000). Sua estrela parecia ter se apagado e ele desapareceu da cena cinematográfica americana.

Ele retorna agora com "A espiã", seu primeiro filme feito na Holanda em mais de vinte anos. O resultado é um filme bastante interessante e muito bem feito, mas com vários problemas. A atriz Carice van Houten está muito bem no papel de uma cantora judia que perde toda a família quando tenta fugir da Holanda. Ela consegue escapar milagrosamente de um massacre e começa a trabalhar para a resistência holandesa, espionando um alto oficial alemão chamado Ludwig Müntze. Bela e sensual, a garota adota o nome de Ellis de Vries e se envolve fisicamente com Müntze na tentativa de auxiliar os membros da resistência. O filme é passado na Holanda no final da Segunda Guerra Mundial e é muito bem feito, com estilo de cinema clássico e sem os efeitos especiais que fizeram Verhoeven famoso nos EUA. Carice van Houten está muito bem como Ellis e ela lembra as antigas divas da era de ouro de Hollywood. Mas este é um filme de Paul Verhoeven, o que significa que ela é vista nua em várias cenas. A direção, por vezes, é confusa. Quando a família de Ellis é massacrada em frente a seus olhos, por exemplo, ela permanece estranhamente fria e tranquila, mesmo tendo levado um tiro de raspão na cabeça. O roteiro é maniqueísta ao criar personagens "do bem" e "do mal" com quem o espectador pode se identificar (ou odiar). Falta também  uma explicação melhor sobre o passado da moça. Sabe-se que ela foi uma cantora, mas de que tipo? Ela foi famosa o suficiente para ser reconhecida durante a guerra? De onde ela veio? O roteiro mostra os pais e irmãos em uma cena apenas para matá-los em seguida, o que é uma saída simples demais. Mesmo com esses problemas (e com a duração longa), "A Espiã" é um filme interessante de se ver. E, quem sabe, o filme traga Verhoeven de volta às telas com mais frequência.

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