Ontem, após uma abortada idéia de ir a Sampa ver algo do “É tudo verdade” (ainda há tempo), acabei indo até o Cine Jaraguá em Campinas assistir “Cada um com seu cinema”. É uma coletânea de curtas de vários cineastas famosos produzidos em homenagem aos 60 anos do Festival de Cannes. São 33 curtas de três minutos cada. O tema é o próprio cinema, o assistir cinema, o pensar cinema, o sentir cinema. Imagina-se que tamanha fragmentação poderia resultar confusa, mas não é o que acontece. Um curta acaba complementando o outro de modo aparentemente aleatório, mas todos passam principalmente o sentimento de amor por esta arte. Cineastas como o brasileiro Walter Salles, Takeshi Kitano, Lars Von Trier, Roman Polanski, entre outros, usam seus três minutos à sua maneira.
Engraçado que, apesar de todos os curtas serem resultado de cineastas, a maioria se revela o trabalho de cinéfilos. Não há menção ao se fazer cinema, mas sim o prazer de se assistir cinema...e NO CINEMA. Uma certa nostalgia e a sensação, talvez, de que esta seja uma arte em extinção (e me refiro à ARTE de se assistir cinema) também permeiam as obras. Há outros pontos em comum; o tema da LUZ, principalmente a luz do projetor e seu contrário, a escuridão, rendem alguns roteiros semelhantes. A escuridão dá margem a comportamentos escondidos, como namorar e fazer amor, ou criminosos mesmo, como no curta em que um garoto tateia por entre as poltronas para roubar espectadores incautos. Andrei Konchalovski usa a luz do projetor e a compara com a luz que vem da porta que dá para a rua, enquanto uma senhora se delicia assistindo “Fellini 8½” e um casal faz amor apaixonadamente entre as fileiras escuras. A vida vem da tela ou da rua?
Pode-se sentir também o fetiche do cinema como algo físico, representado pela figura do projetor, do ato de se passar o filme por entre as engrenagens, se ligar a grande máquina e escutar o barulhinho de cinema. Em “O primeiro beijo”, de Gus Van Sant, o projecionista é um belo adolescente que acaba subindo à tela para beijar uma garota na praia. “Cinema ao ar livre”, de Raymond Depardon mostra uma “sala” que funciona na cobertura de um prédio, a imagem projetada vindo do outro lado da rua. Claude Lelouch conta a história do encontro dos próprios pais em “O cinema da esquina”, uma comovente auto biografia através dos tempos por meio do cinema. E assim por diante.
Engraçado que, apesar de todos os curtas serem resultado de cineastas, a maioria se revela o trabalho de cinéfilos. Não há menção ao se fazer cinema, mas sim o prazer de se assistir cinema...e NO CINEMA. Uma certa nostalgia e a sensação, talvez, de que esta seja uma arte em extinção (e me refiro à ARTE de se assistir cinema) também permeiam as obras. Há outros pontos em comum; o tema da LUZ, principalmente a luz do projetor e seu contrário, a escuridão, rendem alguns roteiros semelhantes. A escuridão dá margem a comportamentos escondidos, como namorar e fazer amor, ou criminosos mesmo, como no curta em que um garoto tateia por entre as poltronas para roubar espectadores incautos. Andrei Konchalovski usa a luz do projetor e a compara com a luz que vem da porta que dá para a rua, enquanto uma senhora se delicia assistindo “Fellini 8½” e um casal faz amor apaixonadamente entre as fileiras escuras. A vida vem da tela ou da rua?
Pode-se sentir também o fetiche do cinema como algo físico, representado pela figura do projetor, do ato de se passar o filme por entre as engrenagens, se ligar a grande máquina e escutar o barulhinho de cinema. Em “O primeiro beijo”, de Gus Van Sant, o projecionista é um belo adolescente que acaba subindo à tela para beijar uma garota na praia. “Cinema ao ar livre”, de Raymond Depardon mostra uma “sala” que funciona na cobertura de um prédio, a imagem projetada vindo do outro lado da rua. Claude Lelouch conta a história do encontro dos próprios pais em “O cinema da esquina”, uma comovente auto biografia através dos tempos por meio do cinema. E assim por diante.
Há também espaço para o humor, por vezes vindo de fontes inesperadas. Eu esperava algo hermético e “cabeça” vindo de Lars Von Trier, mas seu “Ocupações”, a história de um chato que fica querendo contar sua vida para o vizinho de poltrona, é hilariante, e o final, confesso, já me passou pela cabeça em várias ocasiões. Roman Polanski também surpreende com o humor de “Cinema Erótico”, em que um casal assistindo ao clássico “Emmanuelle” fica incomodado com os gemidos de um espectador inconveniente. Walter Salles mostra um duelo entre dois repentistas em “5557 Milhas de Cannes”, em que um deles tenta convencer o outro de que já esteve em Cannes.
Filmes feitos por cinéfilos e para cinéfilos... daqueles para quem o ato de se ir ao cinema é tão ou mais importante do que o que se vai assistir na tela.
ps: a publicidade dizia que havia um curta dos irmãos Coen entre os filmes, mas não é verdade. É fato que eles participaram da idéia e, de acordo com a internet, também tinham um curta entre os selecionados, mas na cópia que assisti, infelizmente, eles não estavam presentes.
2 comentários:
rapaz,
é um mistério essa história do curta dos Coen nesse filme. Na versão que vi na Mostra SP, passou
sem legenda. É um dos melhores! Aproveita o Josh Broolin de Onde os Fracos... É bem bacana mesmo.
Um amigo meu, jornalista, o KMF, trouxe o DVD direto de Cannes e também não tinha os Coen (mas na sessão que ele viu lá, passou).
Bem, parece que a história toda é burocrático, de direito autoral, essas coisas, na negociação final, os Coen ficaram de fora. uma pena.
abraço,
Fernando
Uma pena mesmo, Fernando. Eu ia assistindo e pensando "O próximo é dos Coen"...e nada. De repente, o filme terminou! Talvez seja uma questão jurídica mesmo...será que o Josh Brolin arrumou encrenca? Pouco provável...
Você viu os curtas?
Abraço.
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